A Rapidez do Evangelho


Entre os elevados alpes do noroeste da Itália, onde os picos lembram dedos apontando o firmamento, aninham-se vales férteis e atapetados de relva. Estradas estreitas entre as muralhas de montanhas tornavam o acesso difícil, mas facilitavam a segurança e a comunhão com Deus. Esses vales rodeados de grandes rochas abrigaram por mil anos um povo humilde que queria ser fiel a Deus não seguindo a igreja de Roma.

Pedro Valdo começou a pregar as verdades bíblicas por volta de 1170 e logo os padres o taxaram como herege, isso porque suas ideias iam contra os ensinos da igreja predominante. Muitos dos cristãos que viviam nessa região estudaram as escrituras com este homem e começaram a praticar as verdades da Palavra de Deus. Eles possuíam a Bíblia em sua própria língua – raro na época, pois a igreja não permitia a leitura – e chegavam a decorar livros inteiros com medo de um dia suas Bíblias serem tomadas à força de suas mãos.


Para disseminar o livro de Deus e começar uma reforma no mundo, eles adotaram um plano bem simples. De seus tranquilos e cômodos vales, saíam jovens que viajavam toda a Europa, não como missionários e sim como vendedores ambulantes, levando sedas e cetins, joias e pratas para vender. Ao chegaram a uma casa cuja família demonstrava interesse pelo evangelho, detinham-se por horas falando das grandes verdades do plano da salvação. Oravam nos lares e, antes de partir, deixavam alguma porção da Bíblia, um dos evangelhos, os Salmos ou uma carta de Paulo.

Depois de alguns anos, a Igreja Católica percebeu que esse grupo de pessoas, chamadas agora de valdenses, estavam disseminando a Palavra de Deus entre o povo que eles queriam manter ignorantes no assunto. A igreja sabia que se não conhecessem a Bíblia as pessoas acreditariam em qualquer doutrina inventada por homens. Logo a autoridade eclesiástica instituída ordenou que fossem pegos e mortos onde quer que estivessem.

Deus os protegia e eles não pararam com seu trabalho de distribuir o evangelho ao povo que necessita da verdade. Anos depois, quando homens como Martinho Lutero, John Wycliffe e outros se levantaram e abertamente clamaram o povo para romper com os ditames da Igreja Católica, havia milhares de pessoas com suas Bíblias em casa para ler e descobrir por si só quem estava com a verdade.

Deus começou com uma distribuição de literatura silenciosa, através de pessoas simples que viviam escondidas nos vales entre as montanhas. Através dessa estratégia começou a minar o território inimigo com pequenas bombas dentro de cada casa programadas para estourarem anos à frente. Quando o cronômetro zerou, em todos os lugares o Espírito Santo foi dando entendimento para milhares aceitarem o verdadeiro plano da salvação. A grande reforma do século 16 começou com Deus enviando um grupo de pessoas a distribuir literaturas e preparar um povo para logo mais aceitar grandes revelações do céu.

Pulando para o século 19 vemos outra grande manifestação divina, mais uma vez querendo revelar seus propósitos ao ser humano. Em meados deste século ao revelar-se novamente, Deus escolhe pessoas chaves para acordar o mundo da mornidão espiritual. Nesse tempo se levantaram Guilherme Muller, José Bates, Tiago White, Ellen Golden White e muitos outros que tiveram a incumbência de receber e transmitir verdades eternas.

Logo nas primeiras revelações Deus fez  o povo se recordar de como Ele trabalha. Em 1848, Ellen White teve uma visão para começar a imprimir um jornal, que explicasse a Bíblia, e deveria ser enviado às pessoas pelo correio.  A despeito de não terem dinheiro o casal White obedeceu ao Senhor, armados de fé, e fez a primeira tiragem. O povo aprovou a ideia e muitos chegaram a enviar dinheiro para o endereço do remetente. Era Deus fazendo sua obra de uma forma que fortalecesse a fé dos novos reformadores.

Assim, surgiu mais tarde, a colportagem adventista, que está intimamente ligada ao nome de George Albert King (1847 – 1906). Depois de aceitar a mensagem adventista logo decidiu ser pastor, mas descobriu que não tinha dom poucos meses depois. Foi quando seguiu os conselhos de Richard Godsmark e começou a vender livros e revista que pregavam a verdade presente. Tal foi seu sucesso que na conferência da Igreja em 1881 ele fez um forte apelo aos líderes para que a literatura da verdade fosse levada a todos os lugares.

Deus levantou homens que discretamente visitariam lares, conheceriam pessoas sedentas do evangelho, e ali, dentro do seu lar, sem barulho ou glamour uma estaca da verdade é deixada para cumprir o seu papel da salvação, no seu devido tempo. A Igreja Adventista pregou o evangelho em muitos lugares e fez a verdade bíblica ser conhecida para milhares de pessoas.

Já na visão, Deus revelou que seria pequeno ao começo e, contudo, cresceria a ponto de “assemelhar-se a torrentes de luz a circundar o mundo”. Tudo se iniciou com mil exemplares e sem dinheiro para pagá-los, chegando hoje às 65 casas editoras espalhadas pelo mundo, produzindo continuamente material para iluminar este planeta.

Este tempo é um período conturbado da História, pois nunca aconteceu tanta coisa ao mesmo tempo: problemas econômicos, familiares, de saúde e confrontos militares são vistos em todo lugar que olhamos. Não há mais condições de sobreviver por muitos anos num local tão vulnerável para a raça humana. É preciso fazer alguma coisa para acordar o mundo e dizer que Cristo em breve voltará.

Sabemos que Ele virá e as “publicações expedidas de nossas casas publicadoras devem preparar um povo para encontrar-se com esse Deus maravilhoso”. Essa é a função do Ministério de Publicações, diante das falsas teorias deste mundo espalhar a verdade contida na Palavra de Deus. Deve-se realizar, através da literatura, “a mesma obra feita por João Batista, Arrependei-vos, porque é chagado o reino doo Céus”. Ellen White, O colportor Evangelista.

A estratégia divina para com a literatura é dupla. Uma é para inflamar o povo de Deus a ter uma vida santa e justa em contraste com esse mundo pecador e corrupto. Ela pode nos nutrir da seiva divina contra o pecado e nos manter fiéis aos princípios eternos. Não perca tempo e usufrua da benção da literatura para ter uma comunhão íntima com o Senhor.

Na outra ponta da estratégia está o uso do colportor e da literatura para ir a frente dos soldados e espalhar bombas por todo lado. Quando os verdadeiros crentes se levantarem convertidos de que sua única função é pregar o evangelho, sairão para o mundo, mesmo sem nada em mãos e encontrarão pessoas preparadas em casa, prontos para aceitarem a verdade de que Jesus desce nas nuvens do céu para nos levar a um lar eterno.
Por isso eu desafio a você deixar o que está fazendo agora e começar a trabalhar para Deus sendo um colportor evangelista, “pois se há um trabalho mais importante do que outro, é o de colocar nossas literaturas perante o público e preparar este mundo para a volta de Jesus. Em muitas tarefas podemos nos envolver, mas “a obra da colportagem será o meio de dar rapidamente a sagrada luz da verdade presente ao mundo”.

Que o Senhor te abençoe.

Literatura utilizada nesse artigo:

Robinson, Virgílio E. Heróis de todas as épocas – A História dos Valdenses. Casa Publicadora Brasileira. Santo André, SP. 1969.

Timm, Alberto R. A colportagem Adventista no Brasil: Uma Breve História. Imprensa Universitária Adventista. Engenheiro Coelho, SP. 2000

White, Ellen. O Colportor Evangelista. Casa Publicadora Brasileira. Santo André, SP. 1983.

Rodrigo Bertotti é Pastor